NAS MESMAS ESQUINAS
Corre os meus olhos
pelas passagens
E vi o banco que ainda está lá
Como se o passado fosse hoje.
E me ponho diante
dessas miragens.
Vi as horas em um relógio
que anda devagar
Ou que o tempo
não quer marcar
E o mesmo vento
de antes a soprar...
Sentei-me sob
a sombra de uma árvore rala
E admirei suas raízes
no solo que resvala
Como que a escorregar no tempo que ainda fala.
Sorri ao bêbado
Que ainda insiste
Nos seus goles
E que ainda traga
E sorve a aguardente
Num resto de gente
que ainda existe.
Encontrei o menino
que não usa mais calção
Mas de sorriso
Que ainda lhe molda o coração.
Entranhei-me
por pedras e ladeiras
Qual noite
Qual dia...?
Tudo traz-me
Das lembranças as primeiras
E nessas esquinas
Já tão incandescentes
Já não mais faróis
nem lampiões
A outra claridade se destina
Não mais à missas
nem sermões
Porém à saia curta
das meninas!