Te vi no domingo.
Era noite, bela e estrelada.
Escura como seus olhos.
A lua brilhando branquinha,
Assim como o tom de sua pele.
Eu passava naquela esquina,
Naquela longa rua,
Por onde sempre passamos
Mas nunca nos esbarramos,
Como se fossemos opostos,
De diferentes dimensões.
Você não me viu.
Vi suas costas,
Suas mãos afinando
Aquele velho violão.
Parei em frente o local,
Congelei instantâneamente.
Era você mesmo?
Me peguei sentindo sua falta.
Quando me dei conta,
Já estava entrando
Naquela igreja, sua igreja.
Te olhei por alguns minutos,
Os outros estranharam.
\"Quem é essa moça?\"
Questionavam entre si.
Você não se virou.
Concentrado no instrumento
Que estava em suas mãos,
Você tocava cada corda
Com admirável paixão.
O som ecoava pela igreja,
Se misturava aos passos
Das outras pessoas, que chegavam
E aos cochichos dos que ainda se perguntavam
O que eu fazia parada na porta da igreja.
Quando você percebeu o falatório,
Se levantou do banco que estava sentado
E se voltou pra porta, curioso pra saber quem era
A tal moça morena de vestido vermelho
Que eles tanto comentavam.
Eu já tinha ido embora, me virei e corri
Em direção a rua por onde eu passava antes,
Bem longe de nós e nossas complicações.