joaquim cesario de mello

AOS PÉS DA MESA POSTA

 

Aos pés da mesa posta

a infância se esvai líquida

por entre as frestas dos assoalhos de taco

 

Soubessem os adultos sentados

que o escorrer das horas se derretia

por entre brechas de pedaços de ipês

jatobás, amêndolas, carvalhos e perobas

os almoços de domingo seriam mais demorados

e o papear descompromissado se prolongaria

até ao começar das noites que se sucedem

ao final das tardes que não voltam mais

 

E quando tudo se for embora

no evaporar do sólido à memória

ainda hei de lá estar

brincando por debaixo dos móveis

que fizeram o teto sob o qual

se agasalham pequenos segredos

da parte mais importante da minha história

 

Sobre o céu das meninices rasteiras

adultos se banqueteiam distraídos

enquanto as infâncias embaixo se dissolvem