Rio corrente
Ema Machado
Fecho os olhos, vejo a vida passar
Há um rio correndo, eu ainda às margens do que pretendo
Sou contido pelo medo de avançar
Temo ser arrastado pela correnteza,
poluídas tornaram-se as águas…
Preciso de um barco para navegar
Não consegui ir muito longe
Sentei-me à beira do rio
Vejo a correnteza passar…
Fecho os olhos, vejo o trajeto de décadas
Tanto de mim ficou aqui, contido
Foram tempos de introspecção
A fala emudecida, tornou-se solidão
O aprendizado, perdão…
Há um rio correndo
Ainda espero seguir o curso
Sem medo, buscar nova direção…
Em silêncio ouço apelos da alma, anseia a calma
Na penumbra, apago o olhar desenfreado,
olhos acesos circulam por todo lado
Há um sussurro ao longe
São folhas secas, dançam ao sopro de um vento cansado
A seca impera sobre a vegetação
Há um aspecto mórbido, pinta a estação
É agosto, a espera da primavera é alento
Guardo um suspiro no pensamento
Fragmentos remotos de alguns momentos
Parte o inverno, resquícios permanecem
Folhas ressequidas sob os pés se partem
Quão breve, é a vida…
Ouço os apelos d’alma
Ainda na penumbra, tolhida…