Suspiros Esvaídos
Luiz Cezar Pastoriza Hermenegildo
Como vão crer em mim? Se só um pobre cafute é o que sou, e no escuro enxerga apenas monstros que fazem caretas, e vários outros seres que não passam dos contos encantados.
Eu ouço vozes, passos, o arcabuzar dos móveis, as traiçoeiras sombras horripilantes dos objetos no quarto, os estalos repentinos dos eletrodomésticos no andar de baixo. Mal consigo piscar tranquilo na calada noite angustiado
Eu ouço vozes, passos, a dança das árvores do lado de fora, o vento soprando feito tufão contra minha janela e bestas terríveis se formam nas figuras pintadas nos quadros.
Eu ouço vozes, passos, o subir e descer das escadas. Ó facínoras sejam! É o que grito com a voz presa a correntes. Olhar embaçado, ouvido que mente. Assim vivo eternamente na calada da noite angustiado.
Eu ouço vozes, passos, um vislumbre de algo por entre as pequenas frestas do cobertor de algodão que cobrem meu rosto e meu corpo, que certamente não é algo bom, e não tenho coragem para ver qualquer assombração, que possa estar ali. Pois se aqui eu as ver, nunca mais estarei curado.
Eu ouço vozes, passos! disse no outro dia, expressando ao meu pai o que me aflige, mas quem me garantiu que ele acredite? O dia passa pelo tempo da metade e a noite pelo dobro. Como poderia imaginar que o sono faria suas malas, iria embora e me deixaria eternamente na calada da noite angustiado.
Então eu ouço vozes, passos e tudo novamente num ciclo inacabado...