Eu quero deitar num ambiente mais vasto e
mais livre, caber em cada gota do mar, segurar
algo menos tépido e menos sério. Ser o
sentimento avassalador do entardecer – avoar.
Que seja velho, mas feito de natura.
Que irrompa e distinga a natureza do
mundo e da sociedade das coisas atuais
quando a chuva começar a molhar a cidade.
Os sentimentos de alguém...
O ônibus que foge para uma cidade distante...
Tudo em menor dimensão aflora. Aborda.
É o fim da estação e pétalas espalham-se.
Eu quero constantemente mergulhar no
que havia na estrela que ainda não
despontou; raridade banal escondida;
Ser levada pelo esclarecimento da
¹amendoeira; tocar o brilho do azul místico.
É preciso solfejar – escrever para tocar a vida.
Favoritar as circunstâncias quotidianas
com a suavidade insistente e lívida. Amá-las.
Não se esquecendo de cuidar do que é.
Apagando os passos tristes, olhando para
o céu e fazendo contato com Quem faz o
meu coração bater aquecido de novo.
Eu vivo para designar a mim mesma a
²\'porosidade\' inesgotável desta vida que é
lei-raiz. No fim do dia, não escapo do que sou.
Os pequenos detalhes imprecisos e ricos...
A mão que quer enxugar a lágrima...
O vento macio que percorre.
É o fim da estação e lágrimas espalham-se.
¹ Amendoeira simboliza o ato divino de velar, vigiar e proteger, conhecida também como a “despertadora”, por ser a primeira a anunciar a Primavera. Precisamos fixar os olhos na amendoeira espiritual, principalmente nos tempos difíceis, quando os relacionamentos, os planos e os sonhos parecem perdidos…
² A porosidade assume o significado da metamorfose contínua (\"inesgotável\") da pedra, que é a vida neste poema, que vai liberando os seus poros e evoluindo ou decrescendo.