edson depieri

Timoneiro Viajor

Sublime impulso divino, evoca ternura inefável

O véu do passado se rompe, à sombra do vento eclodir

Estrela guia de amor, fulgente persona notável

Doces memórias suplantam, pungente saudade a ferir

 

És pássaro livre a planar, garbosa aquarela em coral

És peixe no horto do éden, da cor do amanhecer

És poesia e viola matuta, de afeição passional

És harpa do chamamé, polca e rancheira a tanger

 

És pai, avô e marido, sogro, amigo e irmão

És vida pura do campo, um vale de águas corrente

És crepúsculo de aurora e ocaso, e noites de solidão

És sacra capela, és fé, oração em suplício presente

 

És zelo com o bioma, apogeu de justiça e beleza

És o colosso no ofício, o próprio toque de Midas

És a estância olvidada, esplendor que raia tristeza

Gravura de dias felizes, de juventude esquecida

 

Inelutável sentir sua falta, quando tudo memora você

Dispõem cicatrizes latentes que manam de fados velados

Afeto insurge aos olhos, entranha à alma e a gente não vê

Prenúncio de alegre delírio, de retro visor encantado

 

Caro me custa aceitar, a dor que desatina e abrasa

Nutre em mim um rancor, do romper do negro manto

Inverno transpõe primavera, e como abrolho o amor arrasa

E de ti, atroz outubro, ódio e ira se comuta em pranto

 

 Sigo perene tormento, atos de mancebo penitentes

De entender-me ser feliz, com refutada tardança

Quisera dispor novos azos, rogo ao onipotente

Qual pólen ao pé da flor, junto a ti uma criança

 

O vento desnuda a flora, ramalham as folhas no ar

Liras quimeras esvaem, no desabrochar da aurora

Espuma das águas do flume, se dissipam no mar

Só o amor não consuma, essência divina de outrora

 

Oh! Meu Deus, perdoai! Bradei Senhor em devaneio

Profanei em sonhos de ventura, cantos de vã melodia

Ao sorver o agre do fel, e me ver amputado o esteio

Senti brumal despedida, transverter em cruel nostalgia

 

Mas o âmago da criação, de amor e eterno luzir

Face ao lampejo dos círios, fez fulgurar minh’alma

Levou-me o coração desvairado, fez desalento exaurir

Embucei o meu prantear, me fartei de saudade calma!

 

Agradeço ao Arauto de paz, o privilégio auferido

A progenitura afetiva, fruto de nobre etnia

Âncora na tempestade, secular precetor erudito

Comandante de sua estirpe, estrela de epifania

 

Prateado céu da idade, dourada índole jubilosa

Prematura ceifa no jardim, orfanando frutos nativos

Dissipando eflúvios de amor, ofuscando áurea luminosa

Recôndita presença ditosa, prelado de olhar cativo

 

 Cruzastes trilhas e montes, trechos unidos cursamos

Novos nautas te escoltam, no cosmo que ora senda

Marchamos prantivos por ti, segues como estamos

Padece quem fica aqui, sofre mais quem se ausenta

 

Perde sua descendência, patriarca de exímia essência

Esmói coração em estilhas, pedras e espinhos a calcar

Mas logra anjo de luz, astral de aurifulgência

Pedras lajeiam o caminho, espinhos são rosas a brotar

 

Protetor celeste supremo, converto em prece o recital

O rogar do peito extravasa: Envolve em manto sagrado!

Consente regaço luzente, esplandece a rota do naval

Bênçãos em teu recomeço, no lar de etéreo estrelado

 

Destas veredas ao certo, segues zelosa oração

Que eternamente versaste, aos filhos teus com ardor

De amparo, alento e carinho, bonança e sublimação

Com excelsa fonte de fé, dossel de alvo resplendor

 

Em sacra vigília de guerra, iminente corona a raiar  

Deus recrutou ao flagelo, soldados de sua falange

Nosso anjo da guarda, convocastes a batalhar

Em coro os céus regozijam, a família do eleito plante

 

Capitão meu capitão, o bom timoneiro viajor

Aguardo ansioso o dia, do reencontro fraterno

O brado da proa da nau, ”rema meu remador”

Te amo hoje e sempre, meu amigo paterno

 

Edson Depieri

www.edsondepieri.com