Carlos Lucena

DUREZA E UTOPIA

DUREZA E UTOPIA

Creio que não sei 
o que é poesia. 
Nem mesmo sei 
o que se diz com ela
O que se faz com ela
O que se tira dela
E o que se coloca nela.
Se se sente  dor 
Ela é agonia
Se não tem amor
É apatia 
Se é amor
É utopia.
Não sei mesmo 
o que é poesia...
Se é uma música da vida
Ou se é choro sem esperança.
Às vezes penso
Que é alma enternecida
Outras vezes penso 
que é dureza da vida
Ou que vida endurecida.
Penso também 
Que ela é tudo
Mas logo me vem algo 
dizendo que ela é nada.
Que pode ser 
um querer profundo
Mas também pode ser a tristeza de uma alma abandonada.
Não entendo mesmo o que ela é 
Nem sei mesmo 
o que ela quer dizer
Pode dizer uma coisa qualquer
Mas pode dizer muito do querer.
Parece muito com semente lançada na terra
E que o broto pode 
vicejar em abundância. 
Mas pode ser 
que ali nada seja constância 
essa semente nada encerra.
Pode ser espinho 
que ao furar causa-se dor
Porém ninguém nunca viu  
o espinho machucar a flor.
Eu não entendo 
nada mesmo de poesia
Porque nela está  
a dúbia sensação
Do escuro e da claridade. 
E não penetro em sua intenção
Pois ela tem o corpo da mentira
E a cara da verdade.
E assim vai existindo 
entre a dureza e a utopia
Ora é noite ora é dia.
Se faz sonho
Mas também se faz realidade.