Desencarno

Aqui

Eis-me aqui, sem nenhuma distinção dos outros.

Mais um entre os vivos, de coração quente e mente pensante,

Ao menos as vezes, quando não me perco em pensamentos distantes,

Aos passos rápidos, atravessando avenidas, o pensamento solto

 

Eis-me aqui, ser humano mesquinho, carente e revoltoso.

Conheço meus defeitos melhor do que qualquer outro.

Como reconheceria sem o estimulo para tal?

É por isso que me perdoo, ser falho é o que nos torna normal.

 

Eis-me aqui, as vezes forte e esplendoroso,

De tal que, em pedra, almejo morros.

O escândalo de minha alma se torna fogo,

E do mesmo calor eu forjo o amanhecer.

 

Eis-me aqui, de novo e arcaico.

Sinto que sou sopro antigo de terra,

Desenhado pela água, fixado pelo fogo,

Mutável em recorrente ciclo novo.

Somos todos, além do tempo, a carne da era

 

Eis-me aqui, apenas pra sentir e ser sentido.

Não de conflito, mas de profunda causa e consequência,

Da sagrada existência na qual transpiro, envolvo e persigo,

Os pedaços de alma espalhados em carne,

Me formando no final do meu ciclo.

 

Eis-me aqui, finalmente, quando me encontro e deixo de estar.