Carlos Lucena

ENGANO-ME

ENGANO-ME

Quando penso 
em apagar as luzes
E fechar a cortina 
para encerrar o ato
Quando penso que é o fim
E que ficarei a sós
E que de mim não vai sair sequer um sopro
Que nada mais sairá de mim
Lá estamos nós...
Eu e ela...
Eu a caminhar sobre o papel 
E ela pondo no papel 
a minha voz.
Quando penso
Que aposentei os dedos
E que já falei 
de todos os segredos
Que no coração
Já ocupei todos os espaços
Sem mais nenhum medo
Nem fracassos
Lá vem ela
A tirar-me  novamente 
a inconsciência 
Porque ela sabe 
que dependo dessa incoerência
E assim não paro
E nem desisto 
Porque se eu deixo 
o papel em branco
Sem o cântico 
eu não resisto
E se eu for apenas sombra 
eu não existo.