Jonhmaker

Abro a janela no fim do dia...

 

Abro a janela no fim do dia,

Juntando a luz esmaecida do anoitecer

com um resto de oração,

Que vem trazendo consigo uma legenda triste.

Traduzindo parte deste quadro,

Preenchendo a musica alheia

vinda da pequena estação na igreja.

Tocada como se tudo estivesse vivo

e ao mesmo tempo equivocado,

Ficando para sempre ordenado em minhas veias,

Na sublimação resgatada do seu amor ferido,

Pertencente a um céu mistificado,

 

Aberto as lágrimas por uma fenda em meu coração.

Vertendo o pesar da bruma do sonho,

Leve, transparente e misturada aos tons violetas da paixão,

Compelidos à calamidade do pensamento

que nutre com tons escuros de azuis,

Os filetes vermelhos feito sangue, desse entardecer,

Na paleta que se move lentamente,

Porém, relativamente sem nenhuma gravidade,

Apesar da angústia de meu sofrimento.

 

Neste momento nada mais parece ter peso

Aquele peso que as coisas comumente têm.

Estou apaixonado, ileso e solto nos céus de Chagall,

Ouvindo o apito do trem que vem trazendo a saudade

contígua à trilha sonora do entardecer;

A fenecer tocada pelo lampião desafinado no canto da casa,

Que oferece, com emoção, pouca luminosidade

para a realidade de um universo tão grande.

 

Lá fora um pássaro se despede,

O cachorro late,

Enquanto meu espírito complacente

vê-se entretido ouvindo uma conversa,

Emoldurada pelo cheiro das flores,

Que aguardaram esse momento oportuno

para refletir com sutileza, sobre o dia de amanhã

e só então decidir,

Se em meu peito irão se abrir,

Pensando em colorir com alegria

A minha tristeza...

 

 

„… descobri que os anjos têm carne temperada de desejo. Que são mortais e amam. Descobri que se pode amar um anjo terreno e ser sublime.“ —  João Morgado