Sinto-te, é o vento enrugando a fronte das nuvens,
Olho para cada momento,
Cada quadro retangular do tempo,
Preparando-me para aquele em que vais chegar,
Com ansiedade...
Cada instante é uma primazia,
Algo para se guardar no banco terno da saudade;
Esqueço os frisos, os arranhões,
O teu sorriso me oculta a franca tristeza.
Não deixe amada se desfolhar essa rosa branca,
Iluminada e perfumada em minha despedida,
Lança como luz instigante,
o seu perfume,
Que fica em minha mente como mordida,
E nem uma simples palavra eu lhe acrescentaria,
Pois, conquistaste todo o meu amor nesse instante,
Com lume,
Remanescente que, de súbito, brota da tua alegria,
Cantando dentro de nós, o divino;
Deus está nos ouvindo,
Tudo mais está nos ouvindo,
Então esse é um lugar para saudar as boas canções,
Seu coração,
A fortaleza da qual são feitos os raios do sol.
Saiba, o meu espírito está em seu lugar, fervoroso,
Esperando uma boa rajada de vento para voar.
Distante lhe espero, (contente)
No fim, próximo ao horizonte,
Onde serei uma pena a velejar em teu semblante,
Dentro deste mistério que me parece transparente...
Assim que partir ,
Deixarei de ser o fogo a tremular,
amarei o que importa,
Serei a parte que me cabe das cinzas jogadas no ar...
E, talvez, enfim, eu seja como o sândalo,
Que perfuma com amor o machado que o corta.
\"Agora, de regresso a teu lado, leio-te poesia. Deveríamos ter lido poesia sempre. Os dois. Juntos. O amor também é feito de palavras. Palavras que nos podem acariciar por dentro, onde as mãos não chegam, onde os beijos não alcançam.“ — João Morgado.