Antonio Luiz

O tempo em meu jardim

o jardim de minha aurora é lugar de se inventar

na areia tem um oceano, e tampinhas a navegar

das pedrinhas fiz baleias, muito fáceis de avistar

e os caracóis são icebergs, que lesmeiam devagar

 

maquinei conter o tempo e o eu menino conservar

ordenhei saudade densa, em grãos difíceis de escoar

reuni-os em duas garrafas, com jeito para não vazar

assim fiz uma ampulheta, e joguei nesse meu mar

 

o tempo bom da meninice, que eu consegui segurar

mantenho assim subvertido, impedido de disparar

ele até persegue lesmas, mas sem nunca as alcançar

um dia leva mais que um ano, nesse modo de passar

 

a boiar naquelas águas, quero esse tempo eternizar

mas se ele, traiçoeiro, desampulhetado se tornar

o menino bem maduro tenderá a não mais brincar

restará então ao seu corpo, naquela areia adentrar

 

-- esse poema foi publicado em meu blog pessoal (https://antoniobocadelama.blogspot.com/) em 19/7/23 --