o jardim de minha aurora é lugar de se inventar
na areia tem um oceano, e tampinhas a navegar
das pedrinhas fiz baleias, muito fáceis de avistar
e os caracóis são icebergs, que lesmeiam devagar
maquinei conter o tempo e o eu menino conservar
ordenhei saudade densa, em grãos difíceis de escoar
reuni-os em duas garrafas, com jeito para não vazar
assim fiz uma ampulheta, e joguei nesse meu mar
o tempo bom da meninice, que eu consegui segurar
mantenho assim subvertido, impedido de disparar
ele até persegue lesmas, mas sem nunca as alcançar
um dia leva mais que um ano, nesse modo de passar
a boiar naquelas águas, quero esse tempo eternizar
mas se ele, traiçoeiro, desampulhetado se tornar
o menino bem maduro tenderá a não mais brincar
restará então ao seu corpo, naquela areia adentrar
-- esse poema foi publicado em meu blog pessoal (https://antoniobocadelama.blogspot.com/) em 19/7/23 --