... o gesto das tuas mãos
eram como grandes faixas de areia
apertando o mar;
E a praia,
apenas uma extensão
do brilho generoso do seu olhar,
Onde as gaivotas pousavam suas asas
Antes que as ondas se quebrassem,
Na areia branca,
sulcada pelas tuas finas pegadas,
como se fossem rimas,
Acolhendo as estrofes do meu poema,
Na leitura das conchas dos mariscos,
que se levantam para a brisa passar.
Ondulando na casca perolada,
tons de arco íris,
Rebelando-se na intimidade do sol
com o seu calor;
E o frio, trazendo na umidade,
O secreto desejo de tê-la longe da saudade,
Onde a foz do rio
parece encontrar a infinidade,
ao dobrar-se com a calma indomada,
dos ventos que virão,
Na sofreguidão dos aros de espuma,
Soltos depois da tempestade,
Na bonança da palma da tua mão...
Um certo corpo de mulher veste teu espirito,
Na perfumada vaga dessas aragens,
Espreita-te,
Lança-se e se recolhe como a batida do coração.
Só quem percebe a delicadeza do poema,
Viaja na lentidão das palavras,
Nos esboços ressentidos de solidão,
que declamam teu marulhar...
Há um esforço em mim,
Ao dedilhar a aguada da manhã
que invade as tuas flamas,
E percorre o corredor da lembrança,
Onde um besouro nada,
E de costas batendo as asas ele dança;
Em sua dimensão de sonho,
o simples rufar de suas asas
à minha chama apaga,
Assoprando a vela da pintura,
No bojo da iluminura,
Onde a natureza refaz-se esboçada.
Salpicando com tintura as cores da janela,
Extorquindo do fogo a mesura do deserto,
Aonde, na incerteza da solitude,
Gemem as estrelas entre os poetas,
Descrevendo a luz que se anuncia em seu âmago,
Pois, saiba, Thereza, mais uma vez ,
o fogo não apagará a sua beldade,
ao se calar no lume de um novo dia;
Morrerá, para o sol , na rebeldia de irradiar-se,
Inundado de luz,
para chorar contigo a minha tristeza,
de renascer para a eterna saudade...
Eu procuro por mim, tal qual o artesão procura sua arte escondida nos excessos da matéria bruta de seu mármore.