dentre as razões de meus versos
está a de me ler mais um pouco
a mim e aos meus outros tantos
de vozes que acabo endossando
às quais eu empresto meu nome
e nem sei se os conheço de fato
é que alguns de mim são quietos
escondidos no reverso das linhas
doutros, que bramam nos versos
só se ouvem seus dedos em riste
e do Antonio que vive sonhando
só se consegue saber certa parte
há aquele que sempre incomoda
e tem palhaços que me divertem
confesso: já houve até natimorto
mais finito que o ousar desejasse
mas quase todos gozam as vidas
ainda que nem se saiba o porquê
tem um ali, espalhado no quintal
rememorando a infância fagueira
outro pelado, de crespos pra Lua
mostrando sua natureza mais crua
e contrapondo o tal dos andrajos
tem até, em linho, o noturno galã
Antonio é medonho ou é bonito
depende da cor do olho que o lê
tem Antonio envolto em fumaça
e nem com a tal Luz-ciana se vê
e às vezes tem algum defecando
oras, e como haveria de não ter?
tem Antonio que dança de tudo
a quem eu dedico toda a estrofe
rock, valsa ou bolero, não cansa
só deixa a pista pra secar o copo
que com tanta ternura eu lhe sirvo
só pra brindar nossa semelhança
além daquele abolido circunflexo
são inevitáveis pontos em comum
entre os endemonizados e santos
somos todos muito apaixonados
e buscamos manter um equilíbrio
entre as tantas virtudes e defeitos
mas só sei de Antonio de verdade
não admitiria Antonio de mentira
e cada Antonio é parte dum todo
não há, então, Antonio completo
e tem Antonio que ainda não veio
mas, aqui, existe lugar para todos
-- esse poema foi publicado em meu blog pessoal (https://antoniobocadelama.blogspot.com/2023/07/meus-antonios-liricos.html#more) em 05/07/23 --