Jose Kappel

Espelho de Duas Faces

 

Sem medir as coisas

do tempo,

fui em busca do

espelho

de duas faces.

 

Outrora viveu por lá, sem hora,

mas de passados, só sombras

sem auroras!

 

Rodo que rodo,

pejo à indiscrição,

rodo feito saia,

mas dela só guardo

raras aparições.

 

Sumiu.Sumiu de vez.

Rubor meu!

Tá morando na zona desconhecida,

onde todo mundo faz parecido!

 

Dizem que ela nasceu

em lugar nenhum;

nenhum, porque era

do mato,

e de lá não se via

rumor da cidade.

Pobre menina de desdém!

 

Era um ponto no espaço

que correspondia a um astro!

 

Sai atrás dela,

como bonde perdido,

de chapéu roceiro,

mas vazio, bem oco,

escavado de esperanças

e vizeiras de outrora!

 

Um dia, me contaram

dela:

tinha partido de desdém

pro fim de seu mundo.

 

Nunca mais ouvi dela

falar;

raro momento de lucidez

me tomou -

afinal encontrei o tal

espelho de duas faces

que, agora,

só me escorria

meus contornos escuros

e saudades coturnas.

 

Ela quebrou a magia do tempo

e, com isso, virou sombra,

feito ardido vento,

e me deixou sozinho, sem

qualquer honra!

 

Do espelho escorrido

sobraram pedaços mágicos de vidro,

e um pano esvergado de saudades, onde ela morava.