Sem medir as coisas
do tempo,
fui em busca do
espelho
de duas faces.
Outrora viveu por lá, sem hora,
mas de passados, só sombras
sem auroras!
Rodo que rodo,
pejo à indiscrição,
rodo feito saia,
mas dela só guardo
raras aparições.
Sumiu.Sumiu de vez.
Rubor meu!
Tá morando na zona desconhecida,
onde todo mundo faz parecido!
Dizem que ela nasceu
em lugar nenhum;
nenhum, porque era
do mato,
e de lá não se via
rumor da cidade.
Pobre menina de desdém!
Era um ponto no espaço
que correspondia a um astro!
Sai atrás dela,
como bonde perdido,
de chapéu roceiro,
mas vazio, bem oco,
escavado de esperanças
e vizeiras de outrora!
Um dia, me contaram
dela:
tinha partido de desdém
pro fim de seu mundo.
Nunca mais ouvi dela
falar;
raro momento de lucidez
me tomou -
afinal encontrei o tal
espelho de duas faces
que, agora,
só me escorria
meus contornos escuros
e saudades coturnas.
Ela quebrou a magia do tempo
e, com isso, virou sombra,
feito ardido vento,
e me deixou sozinho, sem
qualquer honra!
Do espelho escorrido
sobraram pedaços mágicos de vidro,
e um pano esvergado de saudades, onde ela morava.