Chico Lino

MATO MORTO

MATO MORTO

Chico Lino

 

(Sobre notícia do site Metrópoles, de 14/04/2023)

 

Peripatético, caminho

Por conhecida trilha

 

Próximo ao fim das chuvas

Roçam rente a muros e cercas de quintais, fazendas

 

As altas temperaturas do Tocantins

Tornam o crime de incêndio, brincadeira

 

São piromaníacos

Da soja, da pecuária

 

Andei por horas

Inalando cheiro do mato ceifado

 

Lembro Djavan

Que plantou um pé de flor

E deu capim

 

Precisamos continuar plantando flores…

 

Quando fui jorrado neste mundo

Todos os pecados existiam

 

Isso alivia minha culpa?

 

Como um rio lento

Me arrasto em meandros

 

Retardo o fim

 

“Me dá um tiro na cabeça”

 

Pediu ao policial

Um pai que via sua esposa e filho

Mortos numa execução

No trânsito

 

“Eu queria abraçar minha esposa e acalentar o meu filho, como eu fazia com ele quando ele era criança.”

 

Mas o policial não deixou ele  chegar perto.

 

“Policial, por favor, tire essa sua arma do coldre e dê um tiro na minha cabeça

eu quero ter tempo de sair correndo no infinito e me reencontrar com eles”

 

Um homem em uma moto havia parado ao lado do veículo que a mulher dirigia e fez mais de vinte disparos

 

Vontade de seguir caminhando ao infinito

Até não sentir o cheiro de mato morto