Jose Kappel

Casa de Orfeu

 

Sobras de pó

se escondem

nos monturos que

fazem das lembranças

a ocasião sem vultos,

o momento sem olvidores,

e a  dor como onipresença.

 

E quando a festa começa

servem-se o vinho,

armam-se os coldres,

os fantoches rodopiam

ao cinzel da lona.

 

O laço faz o botão

e guerreiros armênios

pousam suas carquilhas

na palha-de arroz.

 

Não há mais nada de nobre

em tentar reconciliar

a pólvora com o fogo;

ela, dizimada, afogou-se

em lembranças do ninguém;

e ele arredou-se para o doce

canto dos pássaros que já

não se fazem

altivos.

 

Pois a chaga faz o ardor e

rebuliça as asas feridas.

 

E se foi uma história de duas

argolas:

ela não nasceu prá ele,

e os céus cinzentados

mostraram que  ele não

nasceu prá ela.

 

Frutos de um tempo que machuca!

 

Faz-se uma comunhão de

dores e pesares,

dores e costados de feridas.

 

E ela parte pra seu lado,

sem colo,

e e ele caminha

em direção de qualquer

parador.

 

Paciências de amor !

 

Agora, onde existe a sombra

que guarda lá sua guarita.

 

Mas o tempo sem honra

encarregou-se de fazê-la

uma mulher sem sombra.

 

Ela? Perdeu-se

ao vento,

aquele mesmo

que a acariciava

nos pessegais!

Foi quando tudo morreu

inocente,

e ela passou a viver

pelas Casas de Orfeu