MUNDANO
Sou mundano do amor
Sou das cordas de um violino
Do tempero dos dedos na palma da mão
Do teu sexo no meu pão
Sou inteiramente mundano
Dos pés à cabeça
Do fio púbico e dos meus cabelos
Sou poeta mundano dos desejos e dos pesadelos
Da tua fruta na minha gruta
Sou amor feito em qualquer vão
No chão com cheiro de terra preta vermelha marrom
Dos livros do frenesi da arte
Que me transforma em ventos e rajadas
Temporais e tempestades
Gosto do meu jeans rasgado
Da calça velha e desbotada
Da camiseta arregaçada
Do meu peito dilacerado
Do teu desejo atordoado
Do meu sexo no teu excitado
Do calor e do vento
Que se entrega mundano em todas estações
No frio na chuva e nos atalhos do tempo
Eu sou mundano sim!
Amo a boêmia o som do cavaquinho
Das tuas coxas entrelaçadas no meu pavio aceso
Da tua mão a roçar no meu corpo em desalinho
Das tuas pernas nas minhas que deslizam
Feito passarinho dentro do meu ninho
Gosto do boteco e do verso
Do requinte ao samba de botequim
Amo a poesia e como amo!
Da música da canção e do refrão
Das sonatas de Paganini
Amo Lenine
Gosto de meninos
Garotos aflitos homens decididos
Amo o mar os caracóis as abelhas
Da cor dos teus olhos
Azuis verdes castanhos e cor de mel
Pele jambo morena doce moscatel
Não tenho gênero nem raça e nem cor
Sou mundano do amor
Amo os anjos duendes e querubins
Meu coração soa ao som das harpas
Na cama me transformo em farpas
Vida rio água mar e sol
Chuva frio e teu corpo banhando no meu rio
Gosto da minha nudez com a tua
Da tua fruta na minha
Do teu caule na minha flor
Percorrendo tuas ruas floridas
Dilacerando toda a tua dor
Eu nasci mundano!
Brotei renasci da saudade ligeira
Da que se entrega
Que caminha bem cedo
E se entrega na madrugada adentro
Da fúria feroz que me entrego na poesia
Realizo minha fantasia
Eu sou mundano!
Da bruxaria e do osho
Das cartas de tarô
Do índio do pajé e da pomba-gira
Da hóstia e do altar de Jesus Cristo
Gosto de música e canção
Do namoro no portão
Da cama macia e do amor feito no chão
Mundano das obras de Nelson Rodrigues
De Beijo no Asfalto a Álbum de família
Amo o vinho a cachaça e o champanhe
Sou mundano e reverencio Jesus Cristo
Ele me fez poeta no ventre santo
Espalho amor por todos os cantos
Me entrego ao mundo sem temor
Denuncio o teu cio e o meu frescor
Me entrego a vida!
Sou o teu mundano!
Coração livre, franqueado de muito calor
Mundano é a minha arte no teu corpo
Toda transmutada em amor
\'Louvo o hedonismo mundano
Ele me liberta, me arrebenta em pecados não julgados
Me poupa de tristezas sufocadas
Me transporta a euforia do primeiro beijo
Me leva a escrita bendita
Relatando toda história, minha e tua
Da paixão que em ti habita
E do meu corpo de encontro ao teu que me ressuscita\'
VladPaganini