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Letícia Alves

Poente da cor Laranja

É a hora em que os trabalhadores voltam para casa.
O sol confortavelmente aquecido parece deslizar
para a superfície calma e bucólica que vejo.
Um, dois, três, e mais um, sempre mais um carro
deslizando rápido e vultosamente; formando figuras,
formas abstratas que revelam minhas vontades inatas.

Derretendo lentamente, mas é prazeroso.
Finalmente o tempo parou.
A folhagem das formas pairam sobre mim.
Esqueço-me até que tenho o céu para admirar porque
só sinto as cores e as ondulações trazidas por elas.
Transformo o espetáculo cotidiano – este momento
que passa tão brevemente - numa paisagem colorida
que deve ser percorrida isoladamente.
Após isso ninguém sai inalterado. É necessário
puxar a lavanca do seu próprio meio para mudar
a cosmovisão do todo, passar da superfície
contaminada e arrancar as raízes do mal.

— Enfrentar o abismo e ter inclinação para viver. Ser.

A folhagem cheia de vida e graciosa me mostra como
abandonar a mão ansiosa que procura a totalidade,
me ensina a arte de acolher a vontade abstrata de uma
pura impermanência da forma significante, da figura da
existência. De tudo que muda sem porquê, sem resposta.

Na hora em que o sol é macio como o azul e generoso
como o ¹lírio-laranja, eu procuro encontrar o poder
construtivo, meu, e subjetivo; frágil como a sonata,
frágil como eu. Libertar! Libertar, finalmente, as figuras
que haviam sido empurradas, direcionando-nas
para uma explosão exterior esplendorosa – a sina suave.

Agora, no final, vejo a glória da vida em lilás singelo, castanho
sóbrio e verde novo. Possuo a graça, a força e enxergo toda
a luz que me reluz, enquanto constela a noite que se aproxima.



¹O laranja é uma cor ativa que significa movimento e espontaneidade, simboliza encorajamento, estimulo, gentileza e tolerância. O Laranja é também a cor da comunicação, do calor efetivo, do equilíbrio, da segurança e da confiança. É cor das pessoas que crêem que tudo é possível.