Antonio Luiz

O jardim de um só botão

com a brejeirice de flores do campo

e a suntuosidade de uma rosa rainha

ela carregava consigo as primaveras

 

embora tivesse um ímpeto de galinha

eu não passava dum pombo arrulhento

arrastando por ela minhas jovens asas

 

desejava o cálice e as pétalas macias

e corria por ela os meus pensamentos

mas só alcancei-a na terra de Morfeu

 

cerrei os olhos, então, para meu delito

e tal como se lhe roubasse um beijo

tomei-lhe um botão, em ousado gesto

 

e eu teria posado ali para um mármore

como o Paolo e a Francesca, do Rodin

mas ela voltou com jabuticabas abertas

 

desfez o meu tempo no ápice do desejo

e eu só lembro do high-five nas estrelas

ao voltar de Las Leñas, por Marrakech

 

jamais reclamou o seu botão apanhado

na aquiescência, fiz com ele um jardim

regado com silêncio de não desabrochar