De volta e meia
passo na porta
da casa dela.
Não por obrigação,
ou por coisa de avés,
ou dever cívico,
mas por vago sentimento
que candeia neste
velho corpo.
Passo com sentimento
à toa, alvoroçado,
igual a quem
passeia numa praça vazia
de alegorias: apenas
dois postes e
três bancos.
Tudo com muita lua
e armações de sereno.
Passo de folga
e só penso assim: que
largada de vida:
ontem era minha
hoje já é do mundo!
Passo, sentido,
pois sei que dali
metade de mim
ficou.
Passo sentido,
pois sei que, na vida,
nada tem volta
se perdeu uma vez,
perdeu para sempre.
Dúvidas agora eu tenho
sobre minha sobrevivência.
Não sou mais de lugar nenhum,
nem tenho mais pouso
no sentimento dela.
E sabem o que faço
neste pedaço de terra?
Vou escondido, me meto
entre as flores
e num planeio de polem
e fico pensando:
Como era bom quando
a gente
julgava que um era
do outro.
Hoje, porém, somos asas
partidas que não
conseguem levantar mais voo.