Jose Kappel

O Tempo Que Um Que Era Um do Outro

 

 

De volta e meia

passo na porta

da casa dela.

 

Não por obrigação,

ou por  coisa de avés,

ou dever cívico,

mas por vago sentimento

que candeia neste

velho corpo.

 

Passo com sentimento

à toa, alvoroçado,

igual a quem

passeia numa praça vazia

de alegorias: apenas

dois postes e

três bancos.

 

Tudo com muita lua

e armações de sereno.

 

Passo de folga

e só penso assim: que

largada de vida:

ontem era minha

hoje já é do mundo!

 

Passo, sentido,

pois sei que dali

metade de mim

ficou.

 

Passo sentido,

pois sei que, na vida,

nada tem volta

se perdeu uma vez,

perdeu para sempre.

 

Dúvidas agora eu tenho

sobre minha sobrevivência.

Não sou mais de lugar nenhum,

nem tenho mais pouso

no sentimento dela.

 

E sabem o que faço

neste pedaço de terra?

Vou escondido, me meto

entre as flores

e num planeio de polem

e fico pensando:

 

Como era bom quando

a gente

julgava que um era

do outro.

 

Hoje, porém, somos asas

partidas que não

conseguem levantar mais voo.