Esse menino tão pequeno.
Órfão de pai e mãe.
Vive sozinho e acuado.
Sem ter para aonde ir.
Passa os dias perambulando
nas ruas da cidade grande.
À noite, dorme ao relento
em folhas de jornal.
Come restos em latas de lixo.
Às vezes, compra um sanduíche
de queijo e presunto
das moedas que ganha
da caridade de estranhos.
Bebe água nos bebedouros públicos.
Toma banho no chafariz da praça.
Não tem tênis de marca….
Anda descalço.
Veste sempre as mesmas roupas:
uma camiseta furada e
uma bermuda desgastada.
Apesar de enfrentar
tantas adversidades.
Ainda sonha com a felicidade.
Quer viver com dignidade.
Sem medo, sem dor, sem estigmas.
Deseja comprar uma borracha mágica
Para apagar os dias tristes,
os dias de fome.
Quando a barriga ronca e a cabeça dói.
E, a partir daí, escrever nova história…
Quer um lar… um teto para se abrigar.
Quer viver e pertencer a uma família.
Quer dormir numa cama quentinha
e poder descansar em segurança.
Quer estudar e brincar como criança.
Jogar bola no campinho da escola.
Comer feijão, arroz,
bife e batatas fritas.
Chupar picolé e se empanturrar
de brigadeiro…
Quer um celular para fotografar
o seu sorriso feliz e navegar
pelas redes sociais.
Quer tantas coisas
Que nem sabe
O que mais pode querer.
Desejos que provavelmente
nunca vão se realizar.
Pois para ele não existe
certeza de coisa alguma.
Só tem a rua como abrigo.
Onde acordar vivo já é um milagre.
Esse menino tão pequeno.
Quando passa pelas ruas…
Ninguém olha.
Ninguém vê.
Parece invisível aos olhos da multidão.
Vive à margem da sociedade.
Um excluído entregue à própria sorte.
Segregado à escassas possibilidades.
Por causas persistentes
e questões incongruentes,
enraizadas na base estrutural,
de um mundo injusto e desumano
que até agora nenhum governo
conseguiu solucionar.
Diante dessa problemática social
somos impotentes, infelizmente!
Mas temos o poder de ressignificar
um dia da vida
de um menino
em condição similar a esse
que silenciosamente grita por socorro.
Basta que sejamos mais humanos
de acordo com a verdade
de nosso coração
num ato de amor,
pertencimento e inclusão.
( Por Lia Graccho Dutra )