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Lia Graccho Dutra

BORRACHA MÁGICA

Esse menino tão pequeno.

Órfão de pai e mãe.

Vive sozinho e acuado.

Sem ter para aonde ir.

Passa os dias perambulando 

nas ruas da cidade grande.

À noite, dorme ao relento

em folhas de jornal.

Come restos em latas de lixo.

Às vezes, compra um sanduíche 

de queijo e presunto

das moedas que ganha

da caridade de estranhos.

Bebe água nos bebedouros públicos.

Toma banho no chafariz da praça.

Não tem tênis de marca….

Anda descalço.

Veste sempre as mesmas roupas:

uma camiseta furada e

uma bermuda desgastada.

Apesar de enfrentar

tantas adversidades.

Ainda sonha com a felicidade.

Quer viver com dignidade.

Sem medo, sem dor, sem estigmas.

Deseja comprar uma borracha mágica 

Para apagar os dias tristes,

os dias de fome.

Quando a barriga ronca e a cabeça dói.

E, a partir daí, escrever nova história…

Quer um lar… um teto para se abrigar.

Quer viver e pertencer a uma família.

Quer dormir numa cama quentinha 

e poder descansar em segurança.

Quer estudar e brincar como criança.

Jogar bola no campinho da escola.

Comer feijão, arroz,

bife e batatas fritas.

Chupar picolé e se empanturrar

de brigadeiro…

Quer um celular para fotografar 

o seu sorriso feliz e navegar

pelas  redes sociais.

Quer tantas coisas

Que nem sabe

O que mais pode querer.

Desejos que provavelmente 

nunca vão se realizar.

Pois para ele não existe 

certeza de coisa alguma.

Só tem a rua como abrigo.

Onde acordar vivo já é um milagre.

Esse menino tão pequeno.

Quando passa pelas ruas…

Ninguém olha.

Ninguém vê.

Parece invisível aos olhos da multidão.

Vive à margem da sociedade.

Um excluído entregue à própria sorte.

Segregado à escassas possibilidades.

Por causas persistentes

e questões incongruentes,

enraizadas na base estrutural,

de um mundo injusto e desumano

que até agora nenhum governo 

conseguiu solucionar.

Diante dessa problemática social

somos impotentes, infelizmente!

Mas temos o poder de ressignificar

um dia da vida 

de um menino

em condição similar a esse

que silenciosamente grita por socorro.

Basta que sejamos mais humanos

de acordo com a verdade

de nosso coração

 num ato de amor,

pertencimento e inclusão.

( Por Lia Graccho Dutra )