Ema Machado

Nem só de pão…

Nem só de pão…

Ema Machado -Brasil 

 

Arrefecem os tempos

Sentimentos, gradativamente perdem espaço

Erguem-se muros, pendem os braços

O amor anda frio, e antiquado…

 

Lembro-me das festas de família

Quando a simplicidade servia a mesa

O afeto era o prato que havia

Acaloradas gargalhadas de sobremesa

 

Nas agruras daquela época

Em que tudo, era feito em mutirão

Era tudo partilhado, colhido e plantado

Podia ser pouco, mas não faltava alimento. Era moeda do coração 

 

Crianças, verdadeiras proles

Passarinhos em revoada

Pousavam na mesma árvore 

Pulos em amarelinhas, carrosséis e cantigas de roda

 

Lembro-me saudosa das manhãs de domingo

Pulava da cama bem cedinho 

Dia de aprender a rezar

Acorda, menina e menino! Gritava na igreja o sino, 

Por vezes, parecia cantar

 

Hoje, em que há fartura de bens

É cada um por si

Poucos são os que repartem o pão ou algum vintém

Telas frias, mentes vazias

Vidas ficam aquém…

 

Vejo arrefecer o amor

Muitos, nem sabem o que é isso

É alimento vital, de maior valor e sabor

A maioria dos alimentos de agora, não saciam, pois…

Só alimentam o ego e o vício…