Era recíproco o amor dos louva-a-deus Manteodório e Mantearinha, em idade de acasalamento, no reino de Animalia. No entanto, temendo a sina de ser ceado em plena lua de mel, cerceou, o louva-a-deus, o caminho da jovenzinha mariposa, Lepidopterícia, na saída da sua aula de dança matinal. Posudo, esguio e convincente, conquistou-a de supetão, uma imago, recém-saída da fase crisálida. Abriu mão do amor que sentia por Mantearinha, afeiçoou-se por Lepidopterícia, namorou-a e desposou-a, meses depois. Naquela noite nupcial, em algum canto, Mantearinha não se tornara viúva, nem assassina. A noite era muito fria, daquelas de congelar orvalho. Sequioso e predestinado, exauriu-se Manteodório sobre o corpinho colorido de Lepidopterícia, cobertos por uma e meia folhas secas de abacateiro. Não havia sobrado um tostão de calor naquele corpo verde (e pálido). A mariposinha então voou até o poste mais próximo e ficou “dando volta em volta da lâmpida pra se esquentar”, como previra Adoniran, o Barbosa. Lá de baixo, Manteodório parecia rezar pelo calor de Lepidopterícia, de mãos postas e olhos arregalados e imóveis. E o recém casado Manteodório morreu ali, congelado. A mariposinha pouco se importou, porque lhe havia calor no poste para as noites frias. Dizem que no céu da bicharada, há inúmeros louva-a-deus com as cabeças comidas e felizes. No inferno, porém, existe apenas Manteodório, inteiro, mas ainda de olhos esbugalhados e triste. Por aqui, Mantearinha muito lastimou sua perda e questionou: por que hesitar em perder a cabeça por alguém que se ama?