Lia Graccho Dutra

DEFESA POÉTICA

ILUSTRÍSSIMO POETA JULGADOR:

A Musa dos Poetas,
Ora acusada de Amar Demais,
Vem, mui, respeitosamente,
Refutar às inverdades 
Dos versos acusatórios
Do poeta que se diz ofendido.

Para tanto, inicialmente,
Cabe frisar, é fato notório, 
Sabido e consabido,
Pela Comunidade Poética 
Que a acusada e o ofendido 
Viveram um tórrido caso de amor.

Mas quanto a esses particulares
Não cabe a nós entrar no mérito,
Aqui nesse Egrégio Tribunal,
Por razões de decoro e respeito.
De fato, o poeta amou 
A musa por breves anos.
Enquanto durou o frescor,
A juventude e a beleza dela.

Depois passou a despreza-la.
Não quis mais acariciar
Seu corpo esguio.
Deixou de beijar
Seus lábios carnudos.
Sequer olhava
Nos seus olhos
Verdes-esmeralda.

E não tardou em partir.
Para nunca mais voltar.
Tal abandono causou
Sério gravame psíquico 
À saúde da musa 
Que entrou em estado 
De profunda depressão.

Máxima vênia, a acusada
Foi induzida em erro
Pelas belas falácias
De um poeta galanteador.
Sim, deixou-se seduzir 
Por juras de amor eterno.

Mas, ela nem imaginava 
Que tudo não passava
De uma grande ilusão.
Uma quimera do coração.
Extasiado de paixão.
Vãs promessas que o vento
Para sempre levou embora.
E restam sepultadas
Na névoa do esquecimento.

A musa foi acusada de egoísmo,
De ceifadeira de emoção.
Todavia, nada disso é verdade!
É apenas uma ideação.
Devaneios da mente 
criativa de um poeta.
Ademais, será uma humilhação,
Uma afronta à sua dignidade 
Se a acusada perder 
O Título de Musa dos Poetas.

Acima de tudo, cumpre destacar
Que ainda não inventaram 
Uma forma cabal e inequívoca 
De mensurar a amplitude 
E a intensidade do amor.
Porque cada pessoa 
Tem um jeito peculiar de amar.
O importante é Amar
E se fazer Amado!

Amar Demais,
Não é uma conduta típica,
Amar Demais não é crime.
Pois, “ não há crime sem 
Lei anterior que o defina”.
Então, a queixa do ofendido 
É uma aberração 
E as suas Acusações 
São descabidas.
Devendo a acusada ser
Sumariamente Absolvida.
Para que se faça a costumeira
E lídima JUSTIÇA!

(Por Lia Graccho Dutra)

 

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