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Elfrans Silva

PREMOCÃO

PREMOÇÃO 

Pensava dos dias: são todos iguais 
Dias completos, ou faltos demais
Nunca fiquei, qualquer fosse o dia
Sem premoções pra minha poesia
Hoje, entretanto, disposto à compor
Sumiu da minh\'alma, influente ardor
O sol que reinou no infindo universo 
Desapareceu, por sombras, imerso 

Sinos não ouço na torre da igreja
Ave-Marias, Pai Nosso, Assim seja
O bom peregrino apostata da fé 
Retrai, hesitante, de beato à Tomé
Não arrulharam pombas na tulha
Calou no vinil o ruído da agulha
Condenso de nuvens impede a lua
Lumiar crianças que brincam na rua 

Amigos ocultam faces ao tempo
Folhas não alçam sem rumo ao vento
Tristes jardins, sem ramos e flores
Sem borboletas, e sem beija-flores
Não vi menestréis e suas cantatas 
Não vi boêmios e nem serenatas
Tampouco eu vi debruçar na janela 
A namoradeira, da estreita viela

Não vi mariposa topar na vidraça 
Nem rodopiar no poste da praça 
Quiçá me viesse trazer mau agouro
Feliz, deixaria, triste logradouro 
Tu adormeces um sono de anjo
Pervígil eu sou, de vazio me abranjo
Me falta amor, e me falta carinho
Nem só por isso, me sinto sózinho 

Confesso até que vivo meus dias
Tendo alguém só por companhia
Dando respeito, amizade também 
Amor, algum dia, vem ou não vem
Só nunca pensei que a maior solidão 
Fosse um dia faltar, à mim, premocão
Sem amor e carinho vive a alma vazia
Mas, morre o poeta sem a sua poesia