sou eu aqui

aquela corrida chamada vida e o tempo.

 

a corrida da vida 

Parei pra analisar a vida e percebi que a gente vive numa corrida.

Tenho corrido constantemente pra alcançar aqueles que deram a largada primeiro que eu.

E acabo de perceber que perdi um pé durante essa corrida, um pé importante, o pé que me dava equilibrio.

Ele ta sagrando, doendo, ta machucado, meus tendões estão estraçalhados e meus ossos rachados.

Minha respiração falha e meu corpo chacoalha em fagulha de dor.

Eu parei. Eu parei de correr. Me deitei e esperei alguém que pudesse me socorrer.

Na espera de amparo.

Um caro socorrista me ajudou, enfaixou e cuidou do meu pé e disse que voltaria.

Na manhã seguinte avistei um socorrista mas não era o mesmo, ele me ajudou da mesma maneira, enfaixou meu pé e disse que voltariam pra me ajudar.

Na terceira visita veio novamente uma pessoa diferente, ela era mais amorosa e cuidadosa, e apesar da dor aquela manhã foi muito harmoniosa.

Na décima visita meu pé agora latejava e incomodava. E como todas ás vezes anteriores, eles enfaixavam novamente

Na trigésima visita os remédios começaram a fazer efeito, me sentia anestesiada. E da mesma forma como nos outros dias, um socorrista enfaixou meu pé.
Na sexagésima visita notei que o meu \"pé\" ou pelo menos o que restava dele, não sarava, apesar de parar todo esse tempo pra fazer com que ele curasse, a ferida ainda estava ali, exposta.

Na nonagésima visita o sangramento tinha finalmemte parado, a dor de latejo tinha diminuído e naquele manha senti saudades do meu pé e da vida mais fácil que eu teria se ele ainda estivesse em meu corpo.
Na centegésima visita finalmente me sentia bem para levantar, nessa mesma amanhã como todas outras um socorrista vinha enfaixar o pé para que curasse.
Naquela manhã finalmente criei coragem para pergunta algo para o socorrista, perguntei como estava e quando poderia deixar de enfaixar essa ferida.
O socorrista respondeu \" Isso apenas dependerá de você\"
\" Como assim?\"  eu o perguntei.
E ele respondeu \"Minha querida, sua ferida não está mais aberta, o que se encontra aqui é apenas uma cicatriz, uma enorme cicatriz, uma daquelas que vai sempre lhe lembrar do que aconteceu com o seu pé\"
Nesse momento o socorrista desenfaixou meu pé e me mostro a cicatriz, e lá se encontrava uma enorme cicatriz de uma que me lembraria pra sempre.
Mesmo ali tendo apenas uma cicatriz o socorrista mais uma vez enfaixou.
E após enfim ter conversado com o socorrista, resolvi pergunta seu nome e lhe agradecer por ter me ajudado a curar a minha ferida e entao ele disse \" Me chamo tempo e não precisa me agradecer, estarei aqui e te ajudarei a curar as suas feridas e independente de que você peça ou não\"

Na centegésima primeira manhã o mais novo \"amigo\" tempo outra vez veio enfaixar meu pé e dessa vez eu simplesmente disse que não precisava mais que ele o enfaixasse e que eu não teria vergonha em mostra as minhas cicatrizes.
Nesta mesma manhã foi a primeira vez eu tinha tentado voltar pra aquela corrida, e eu voltei.
Não voltei correndo porque não conseguia, eu estava sem um pé mas  depois percebi que eu conseguiria continuar na corrida, não seria correndo mas pulando, pulando apenas com um pé.

Nas manhãs seguintes conheci pessoas que também corriam de formas diferentes, algumas só conseguiam andar lentamente por conta da coluna, outras não tinham braços, outras lhe faltavam orelhas e algumas nem enxergavam pra onde estavam indo.
Depois de observar que cada uma tinha forma diferente de correr sua corrida, notei que a última opção era desistir, eles tinham medo dos desistentes, ninguém sabia aonde iam.

Entendi que independentemente do quão difícil seja correr ou de quantas pausas você vai precisar pra se recuperar durante a sua corrida, o importante é continuar na corrida, do seu jeito e da sua maneira.

Aprendi a deixar o tempo se encarregar das coisas um pouco. E ele se encarregou de algumas dores e as tornou em lembranças.