Arlindo Nogueira

O TEMPO

Que a mão do tempo nos proteja

Há revoada de chuvas na colina

Chove um dia o outro esbraveja

E tudo se some na densa neblina

 

Ventos sopram a farfalhar a folha

Na boca da noite o dia perde a cor

Tempo brejeiro envelhece a tralha

Eu sinto ausência do primeiro amor

 

Chove torrencial e coalha a lama

Estrada estreita aberta na estação

Perfume da flor invade entranhas

Instigando a fera pulsa o coração

 

Linda fada com tranças na ilharga

Pássaros cantam há uma tormenta

Antes chora a seca agora ri d’água

É água de março de chuva violenta

 

Onde a terra termina o mar principia

Camões disse um dia, o tema é justo

Nas tardes um disco sozinho ouvia

Insisto à toa sem ter senão um susto