Todo o dia sabe que vai acabar.
Todo besouro sabe que vai voar,
brevemente existir e morrer.
Será que os gafanhotos conhecem
o inverno como eu?
Será que o passarinho que acabou
de passar aqui sabe que eu não
posso voar como ele?
Que eu não tenho gaiolas
ou asas como as dele?
Todo mar sabe que na sua
profundeza escondida
é onde algum tesouro
perdido habita;
alguma espécie indefinida.
A onda também sabe que
o momento mais bonito dela
é o que faz ela quebrar?
Se soubesse ela ainda escolheria?
Só a onda conhece o eclipse do mar.
A estrela morre todo o dia
e nasce toda a noite, venusta.
A lua, sua amiga, todo dia
enfrenta e reflete a sua fase-parte.
Todo dia eu sou o que sei que vai acabar.
Mesmo assim escolho fazê-lo
e morrer de viver.
Tem-se muita água,
água que deve correr
intensamente para se beber.