joaquim cesario de mello

POEMAS INSONES

 

e a noite me tingiu de preto os cabelos

e cobriu de escuros minha sombra

que repousava na cadeira ao lado

 

como não lembrar dos meus esquecidos

que no desadormecido dos sonos atrasados

sonambulam anônimos pelas quinas

------------- notívagas do quarto

 

as noites são compridas e vastas

no dilatar dos poemas acordados

que precedem o afugentar das estrelas

pelo cacarejar matinal dos galos

 

e quando a noite em mim despertar

vou vaguear por aí catando versos no chão

antes que sejam apagados pelas borrachas

dos solados apressados dos homens

 

[são nas noites que os poetas uivam

os gemidos espirrados nas ruas]

 

a poesia nunca dorme

nem os anjos

nem o ontem

nem os poetas