Crica Marques

Retalhos

Vou colorindo meus dias

Com a tinta vermelha

Da descoberta, da paixão

Vivendo do fogo a centelha

 

Das batalhas perdidas

E das lutas ganhas

Faço uma colcha de retalhos

Dos meus feitos, das minhas façanhas

 

Subo cada ladeira

E desço cada precipício

Com a certeza palpável

De que tudo isso é apenas o início

 

Preparo o fogo

Atiço o vento

Estico os braços

Para saborear cada momento

 

Queimo em febre

Congelo em dúvida

Vontade antiga

Ou trapaça súbita

 

Ameaço explodir, como granada que sou

De dor e de felicidade

Viajo caminhos difíceis e longos

Em busca da minha verdade

 

E ela se descortina tão clara, tão cara, tão rara

Tão sem mágoa, sem marcas

Guardo-a em pedaços

Nas minhas velhas arcas

 

Trabalho as histórias

Desvendo os mistérios

Mergulho nos medos, sem medo

E reinvento meus próprios critérios

 

E nessa linha tênue que sou,

Eu nova, renovada em mim mesma

Menos certa de quem virei  a ser

Transformo lentamente essa resma.