O poeta é um ladrão
que rouba da vida
os versos que escreve
com a língua dos afetos
e os vocábulos do coração
De que adianta passar pela vida
e dela nada surrupiar
seja uma maçã da árvore
seja uma passageira paisagem
seja o cri cri estridente dos grilos
seja o roçar silencioso dos cotovelos
ou o cheiro da brisa salgada que vem do mar
Tenho pena dos bem-comportados
dos sóbrios e dos recatados
pois eles não sabem que a vida
foi oferecida para ser roubada
e disso são feitos os versos:
pequenos momentos usurpados