joaquim cesario de mello

TODO POETA É UM LADRÃO

 

O poeta é um ladrão

que rouba da vida

os versos que escreve

com a língua dos afetos

e os vocábulos do coração

 

De que adianta passar pela vida

e dela nada surrupiar

seja uma maçã da árvore

seja uma passageira paisagem

seja o cri cri estridente dos grilos

seja o roçar silencioso dos cotovelos

ou o cheiro da brisa salgada que vem do mar

 

Tenho pena dos bem-comportados

dos sóbrios e dos recatados

pois eles não sabem que a vida

foi oferecida para ser roubada

e disso são feitos os versos:

pequenos momentos usurpados