Carlos Lucena

POÉTICA IMPERFEITA

POÉTICA IMPERFEITA

A  minha palavra escrita
Talvez não tenha muita beleza
Mas é uma palavra dita
Que planta em mim 
alguma riqueza!.

Os meus versos são canções
Que a música desconhece
Ou quem sabe são orações
Ou poesia em forma de prece!

São versos que eu escrevo
Sem que me imponha 
à luz da gramática 
Apenas imprimo aquilo 
que acho que devo
ora com palavra inocente
Outra com palavra enfática.

Não é estrofe
Bem dividida
Repleta 
de endecassílabo perfeito
Mas é palavra exprimida
Tirada de dentro do peito 

Não tem a bravura das epopeias 
Nem a romântica
E lírica voz de Cervantes
Apenas à luz das ideias 
Versejadas em ritmos cantantes!

Escrevo versos
Sentidos, cantados
Sem precisar 
do rigor da estética
Pois cá estão 
os pensamentos guardados
Que me dão a elegia poética!

Não recorro às prisões verbais
Que tiram-me 
do peito a liberdade
Quando não vou ao coração 
Procuro as sensações carnais
Para que o belo 
não seja atrocidade
E o desejo não seja 
apelos surreais!

Para as ciências 
bastam os cientistas
E para os poetas a poesia
Se me falta na alma 
nuances esquisitas
O espírito me dá fantasia
E o edifício que construo 
sem as normas do engenheiro
Dar-me tudo que preciso
Sem que nada venha primeiro
Que o canto, 
Que riso
Que o pranto
Que o encanto!