POÉTICA IMPERFEITA
A minha palavra escrita
Talvez não tenha muita beleza
Mas é uma palavra dita
Que planta em mim
alguma riqueza!.
Os meus versos são canções
Que a música desconhece
Ou quem sabe são orações
Ou poesia em forma de prece!
São versos que eu escrevo
Sem que me imponha
à luz da gramática
Apenas imprimo aquilo
que acho que devo
ora com palavra inocente
Outra com palavra enfática.
Não é estrofe
Bem dividida
Repleta
de endecassílabo perfeito
Mas é palavra exprimida
Tirada de dentro do peito
Não tem a bravura das epopeias
Nem a romântica
E lírica voz de Cervantes
Apenas à luz das ideias
Versejadas em ritmos cantantes!
Escrevo versos
Sentidos, cantados
Sem precisar
do rigor da estética
Pois cá estão
os pensamentos guardados
Que me dão a elegia poética!
Não recorro às prisões verbais
Que tiram-me
do peito a liberdade
Quando não vou ao coração
Procuro as sensações carnais
Para que o belo
não seja atrocidade
E o desejo não seja
apelos surreais!
Para as ciências
bastam os cientistas
E para os poetas a poesia
Se me falta na alma
nuances esquisitas
O espírito me dá fantasia
E o edifício que construo
sem as normas do engenheiro
Dar-me tudo que preciso
Sem que nada venha primeiro
Que o canto,
Que riso
Que o pranto
Que o encanto!