Antonio Luiz

Um amor e uns goles de plágio

Eu bebo para lembrar um grande amor.

 

Eu bebo, lembro, esqueço, ciclicamente.

 

No esquecimento, revelo toda minha culpa.

Na lembrança escondo o que deixei de amar.

 

Não conjuguei esse verbo em tempo certo.

No pretérito, teria sido mais que perfeito.

Era um presente e hesitei: futuro imperfeito.

 

Ele chegou brisa, eu perseguia tempestades.

Deitou-se orvalho em relva, eu, inundações.

Cuspi na boca que eu comia!

Fiz da incompletude o meu maior castigo.

Feri com ferro que me feriria.

 

Abri mão de um grande amor e da poesia.

Arrebanhei palavras por coisas de não se amar.

Entrincheirei versos para lutarem contra mim.

 

Lembrar minhas estrofes arregaça feridas.

Esquecê-las, ébrio, torna-me menos vazio.

 

Eu bebo, esqueço, lembro, ciclicamente.

 

“Eu bebo para esquecer meus poemas”.