Eu bebo para lembrar um grande amor.
Eu bebo, lembro, esqueço, ciclicamente.
No esquecimento, revelo toda minha culpa.
Na lembrança escondo o que deixei de amar.
Não conjuguei esse verbo em tempo certo.
No pretérito, teria sido mais que perfeito.
Era um presente e hesitei: futuro imperfeito.
Ele chegou brisa, eu perseguia tempestades.
Deitou-se orvalho em relva, eu, inundações.
Cuspi na boca que eu comia!
Fiz da incompletude o meu maior castigo.
Feri com ferro que me feriria.
Abri mão de um grande amor e da poesia.
Arrebanhei palavras por coisas de não se amar.
Entrincheirei versos para lutarem contra mim.
Lembrar minhas estrofes arregaça feridas.
Esquecê-las, ébrio, torna-me menos vazio.
Eu bebo, esqueço, lembro, ciclicamente.
“Eu bebo para esquecer meus poemas”.