Por trás da contínua cabeceira, mesmo no escuro da incredulidade do amor, vejo os casais nas praças. De mãos dadas, abraçados ou em caricias. Em Sorrisos bobos, seriedade no olhar, juras, confissões... centelhas de uma chama, chama em folhas secas, levadas pelo vento sem matéria e energia suficiente para produção de calor contra o inverno que esta a porta.
Sento só e medito: - A problemática é que o vento que trouxe a folha, aleatoriamente a pôs diante de outra aparição aleatória. E a esperança nesse acaso é o sucesso da combinação plausível dentro de um “N” grande demais. Sucesso raro como o Ástato. É Estupido pensar em sucesso se levar em conta suas bagagens e tralhas imundas que se arrastam com nossa existência.
Sei e vejo que no íntimo sofrem, choram e descontentes descobrem que não a oxigênio nem faísca que produza o pretenso incêndio, Sei, vejo e sofro dessa epidêmica angustia.
As Imagens percorrem os inaptos nervos óticos e não fazem sentido nas sinapses confusas que se colidem e explodem a cada tentativa de entender:
O que é amor? Como consegui-lo? E se conseguir como mantê-lo? O que essa materialização dos sentimentos quer receber ao meu lado? O que dar? O que cobrar?
Ah! Cansado estou, empiricamente não aprendi e ninguém me ensinou a amar... E nessa praça as folhas são tão vitimas quanto eu.
Bagagens e Tralhas:
7 anos – Vi o amor! Morou em casa, eu era o centro da vida dele,
Presentes, brincadeiras, sorrisos, colo - como era bom seu colo -, Seus olhos percorriam-me a procura de dor e corria para ameniza-la, no medo me protegia. Era dependente de você, era protegida sua. Meu super-herói. Eu te amava e acreditava no seu amor... será que meu pai é o amor?
14 anos – Era domingo, levantei, tomei banho, perfume, pulseira colorida que eu amava, amarrei o cabelo. Papai me esperava para o café, não tão sorridente. Saímos.
Eu olhava a cidade, minha mente se distraia, meus planos, minha futura carreira, estava segura pois papai apoiava-me em tudo e incentivava.
Chegamos ao aeroporto, papai se abaixou até a minha altura e com ternura me abraçou e me beijando pela ultima vez, disse-me:
_Papai está indo embora, não vou mais voltar. O seu avião partiu e as nuvens o esconderam para sempre dos meus olhos.
21 anos – Olhou a estancada nascente, e viu uma vela a meia-noite da descrença, a afacia distorce a definição do amor, mas uma pequena luz o guiou e me amou, arriscou e apostou na teoria da água em terra seca. Sim, algo brotou, Era rude, mal arraigado e disforme. Me joguei, houve esperança e planos,
Me rasguei da cabeça aos pés, mostrei a cerne instável e sem palavras queria ver aquele avião voltando.
Ele tentou, romantizou e se declarou oficialmente “o colo”!
Casamento, filhos e casa. Me vi no centro, será que a nuvem te devolveu?
O que é amor? Como consegui-lo? E se conseguir como mantê-lo? O que essa materialização dos sentimentos quer receber ao meu lado? O que dar? O que cobrar?
Não consegui responder! Diretamente proporcional ao tempo que passou, o Avião se afastou novamente, ou nunca voltou, e a folha seca terminou sua combustão. E neve e gelo inaugurou o glacial chão daquela praça. Onde estática e sentada, me surpreendia com a dança das folhas na aleatoriedade do vento.
42 anos – o tempo deu um salto, e periodicamente quer me enganar com aviões de papel voando a palmos da minha córnea, ou são moscas ou ainda apenas sussurros de esperança, lembro e dou risadas, isso já foi um grito.
Ponho meu casaco, e saio para assistir e testemunhar as pseudas fogueiras que iniciam em um colo e morrem com os aviões.
Por Sandro S Lino