Nascemos do mesmo solo,
Onde os raios de sol
Riscam como pincéis atômicos
E brincam de fazer mapas
Na aridez estúpida que alí se encerra.
Crescemos sugando os leites
Guardados como seivas de vida
Na mãe e na terra.
Que se definham,
Mas não perdem a guerra.
Irmãos de espécies diferentes
Iguais na força, coragem e um tanto resiliente.
Sua primavera chegou primeiro
Quando floresci, há muito tu já havia
Decorando o meu terreiro.
Meu olhar te venerava,
Orgulhosa da tua beleza
Teus frutos, tuas rosas, teus espinhos
Tua verde iponência
Tua magistral natureza.
O tempo nos afastou
E não mais te percebia,
Mas sempre que aqui voltava
Teus olhos em mim sentia
Teu cheiro em mim ficava.
E vamos sobrevivendo
Neste paraiso azul
Meu pé de mandacaru.
Superando as tempestades
Os invernos e estiagens.
No mesmo chão, no mesmo solo,
Tu cactus, eu sapiens
Na mesma imagem.