Marçal de Oliveira Huoya

Vício Difícil

Entrou na Emergência
O médico chegou para examinar
Com licença, com licença
Qual a doença?
O doutor se apressou em perguntar
Com uma leve displicência
Já enfadado, pressupondo o diagnóstico
Sempre a mesma doença
Paciente estatalado, olhos vidrados,
Respiração ofegante, coração disparado,
Quadro típico de um amante intoxicado
Sem dúvida este estupor é característico dessa patologia
Isso chega todo dia, intoxicação por amor

Não precisa ser doutor pois qualquer um já saberia
Enfermeira por favor, deixe entrar um informante
Tá na cara que se trata de um amante amador
Um poeta, veja o semblante
Os vizinhos, sempre os vizinhos
Que o encontraram sozinho no chão desmaiado
Junto de caneta e papel
Versos espalhados no chão
Ah destino cruel
Não lhe aguentou o coração
Mulheres em tantos poemas
Então valeu a pena
Ele não morreu em vão
Ele que andava cansado
Cheio de queixas e suspiros
Ah! O Amor é um vampiro
Estava exausto, estafado

Outra vez apaixonado
Um vizinho mais chegado comentou

Esse negócio de muito amor
Acaba matando
De repente alguém reparou

Olhem, ele ainda está respirando
Trouxeram pro pronto socorro
Será que tem convênio?

Botaram no balão de oxigênio
Não precisa ser nenhum gênio
Para chegar ao diagnóstico
Saber se tem mau prognóstico

E definir a enfermidade exata

É que nem sair sem camisa no vento
Chega, lhe dê mais um beijo

Mas beije bem lento

Senão tanto amor lhe mata...