...lhe digo, por que talvez não saiba,
Que é meu abrigo nas noites de chuva,
Onde me disperso no emudecido balançar
sublime e plano de sua calma,
Como um navegante lúcido balança,
No remanso esteio do seu mar,
Que espera esvaziar o peito louco de melancolia
da tua ausência vazante na maré de cada dia;
Para revelar-te com a serenidade que me toca a alma
o saudoso desejo de beijar a tua boca,
Quando na razão incólume
do meu desconforto te calas,
Nos dias em que selamos os ventos
e galopamos até as manhãs ensolaradas,
Soltas a correr por esse pequeno horizonte,
Como se fossem embarcações itinerantes
passando por nossas vidas,
E nosso amor estivesse contido
no espaço sereno,
Do sustento pleno de uma garoa fina
que, altruísta, finalmente cai,
E ao sol atrai na esperança de se alegrar
com a visão de um novo arco íris,
Inerente à vontade do vento
que lhe sopra e se desfaz,
Na andança de cada onda gigantesca com que se choca,
Transformando-se na espuma branca,
A luma das gotículas de esperança,
Que brilha quando clareada
pela sublime alvorada dos teus olhos.
Algumas vezes ouço o eco
pertencente as próprias palavras,
E sinto que a bonança me abandonou;
Levando a alma partida numa caravela indecisa
para fora desse mundo vazio e perdido,
Vagando pelo espaço empobrecido desse mar,
sem a compleição reconfortante de sua brisa
a me levar numa viagem imprecisa e sem fim.
Mesmo assim, sigo peregrinando
sobre este sentimento cauterizado,
Que escuta de longe o roçar das velas
açoitando os mastros angustiados pela calmaria,
Golpear no peito o meu coração.
Outrora comovido por seu abraço
Como um receio maltratado pela escravidão;
Por ter que viver mais um dia exposto as marcas
que nem o rancor da chuva pode levar,
Para saber, então, que tudo vai passar,
Não como um sonho,
Mas, como o pesadelo de te amar.
Porém, bastaria um sorriso teu
e a borrasca se dissiparia,
Transformando esse oceano
numa rota segura para que eu pudesse navegar,
Tendo seu olhar a me inspirar na distancia,
Com a pura luz de um farol impulsivo
guiado por sua bucólica presença,
Descansando nas costas pacíficas
de uma ilha emotiva,
Sob as nuvens de algum verão
aconchegante e quente,
A sombra de uma palmeira verde oliva,
Na invisível dor do meu sofrimento
por muito tempo guardado num segredo,
Que viaja amarrado, sem nenhuma comoção,
No triste porão do meu barco,
Como se fosse o pesar de um lastro
para o meu coração.