Após cinco voltas e meia em torno de meu
pórtico,
crianças chegaram
e a neve tomou a entrada
das casas.
Após cinco dias em torno de meu
corpo
homens e mulheres se misturavam
numa conversa barulhenta
e, sozinhos,
acolchoavam-se.
Após cinco horas em torno
do espírito que se foi,
lá carregavam mais e mais
espíritos comuns,
para a vala dos desmanados.
Aqueles que nunca viram
a tal Garça de Ouro !
Após cinco choros e diversas
lágrimas em torno
de meu corpo,
vi chegar o inverno,carregado
e impetuoso,e vieram outras
estações,
que mal sabia - discente -
qual era porta de entrada
ou as variáveis portas de saídas.
Após cinco dias - como apóstolo
selvagem, em torno de meu copo,
fui levado às pressas para os
homens de branco que
disseram:
-Que pena! - disse um.
Que dó - disse outro.
Passa pra outro - arrematou o terceiro.
E assim fui carregado em paz e com
dor.
Por uma, não levarem meu corpo
Por duas, deixaram meu copo.
-Tudo por tristeza dela.
-Alma avessa e trôpega que me colocou no poente,
Enquanto, agora, lá espargia as meias do seu mais amor
ao sol ardente e indiferente.
E no copo,
bebem agora,
só sonhos de
Garças de Ouro,
numa passarela
feito só pra ela,
moldada em feltro de prata.