Jose Kappel

Garças de Ouro em Feltro de Prata

 

Após cinco voltas e meia em torno de meu

pórtico,

crianças chegaram

e a neve tomou a entrada

das casas.

 

Após cinco dias em torno de meu

corpo

homens e mulheres se misturavam

numa conversa barulhenta

e, sozinhos,

acolchoavam-se.

 

Após cinco horas em torno

do espírito que se foi,

lá carregavam mais e mais

espíritos comuns,

para a vala dos desmanados.

 

Aqueles que nunca viram

a tal Garça de Ouro !

 

Após cinco choros e diversas

lágrimas em torno

de meu corpo,

vi chegar o inverno,carregado

e impetuoso,e vieram outras

estações,

que mal sabia - discente -

qual era porta de entrada

ou as variáveis portas de saídas.

 

Após cinco dias - como apóstolo

selvagem, em torno de meu copo,

fui levado às pressas para os

homens de branco que

disseram:

-Que pena! - disse um.

Que dó - disse outro.

Passa pra outro - arrematou o terceiro.

 

E assim fui carregado em paz e com

dor.

Por uma, não levarem meu corpo

Por duas, deixaram meu copo.

 

-Tudo por tristeza dela.

 

-Alma avessa e trôpega que me colocou no poente,

Enquanto, agora, lá espargia as meias do seu mais amor

ao sol ardente e indiferente.

 

E no copo,

bebem agora,

só sonhos de

Garças de Ouro,

numa passarela

feito só pra ela,

moldada em feltro de prata.