Letícia Alves

DOENÇA DA JUVENTUDE – OS INSTANTES-JÁ

Às vezes, em momentos frágeis, num instante-já, sinto a minha juventude sendo esvaída das minhas mãos, como se tentasse segurar a areia com os dedos semiabertos, para uma suposta eternidade. 

Uma eternidade longínqua que resplandece nos olhos. E eu giro, giro e entorpeço com isto, numa dança esquisita para a minha juventude, para a vida nos instantes-já, para o presente que já passou e me levou, para a minha inconstância e efemeridade, para todo o saudosismo vigente que me traz da vida saudades. 

 

Ah, o passado. Tudo já é passado... assim como essas palavras que já se tornaram meras reminiscências. Pequenos artifícios que me tocam, me fazem querer viver, me fazem sorrir ao lembrar e ao notar a minha juventude – a minha doente juventude. 

 

Choro de felicidade e saudade. A melancolia invade e aflora toda a parte penetrável deste coração embevecido pela brevidade das coisas que ainda nem foram experimentadas. À juventude que existe em mim dou asas. Aceito as quebradas. Dou graças à vida e a Deus pela juventude que posso viver, sentir, por ela de prazer morrer. 

 

Nos instantes-já vejo os substratos da minha juventude passando e, porque noto esse fenómeno esplêndido e belo, porque posso ver e viver, sou feliz. 

Até na infelicidade há a parte onde a felicidade paira; 

Até na lagrima há expressões de leveza;

Até na calmaria há inquietação;

Até na água há sede. 

Tudo sempre está tão longe, ainda que esteja sempre aqui.

Contudo, às vezes, em momentos frágeis de instantes-já, 

a vida é vívida, e então vivida.