Às vezes, em momentos frágeis, num instante-já, sinto a minha juventude sendo esvaída das minhas mãos, como se tentasse segurar a areia com os dedos semiabertos, para uma suposta eternidade.
Uma eternidade longínqua que resplandece nos olhos. E eu giro, giro e entorpeço com isto, numa dança esquisita para a minha juventude, para a vida nos instantes-já, para o presente que já passou e me levou, para a minha inconstância e efemeridade, para todo o saudosismo vigente que me traz da vida saudades.
Ah, o passado. Tudo já é passado... assim como essas palavras que já se tornaram meras reminiscências. Pequenos artifícios que me tocam, me fazem querer viver, me fazem sorrir ao lembrar e ao notar a minha juventude – a minha doente juventude.
Choro de felicidade e saudade. A melancolia invade e aflora toda a parte penetrável deste coração embevecido pela brevidade das coisas que ainda nem foram experimentadas. À juventude que existe em mim dou asas. Aceito as quebradas. Dou graças à vida e a Deus pela juventude que posso viver, sentir, por ela de prazer morrer.
Nos instantes-já vejo os substratos da minha juventude passando e, porque noto esse fenómeno esplêndido e belo, porque posso ver e viver, sou feliz.
Até na infelicidade há a parte onde a felicidade paira;
Até na lagrima há expressões de leveza;
Até na calmaria há inquietação;
Até na água há sede.
Tudo sempre está tão longe, ainda que esteja sempre aqui.
Contudo, às vezes, em momentos frágeis de instantes-já,
a vida é vívida, e então vivida.