Cecilia

PRETÉRITO MAIS QUE PERFEITO

       PRETÉRITO  MAIS  QUE  PERFEITO

 

Pouco a pouco o corpo se desgasta,

cansa, pesa e dói.

vão-se dentes, músculos

e os cinco sentidos.

 

O mundo muda, cada vez mais depressa.

Não é mais a nossa casa.

Com esforço, evoluímos, mas há coisas

difíceis de aceitar.

 

Nossos amigos,

os que falavam nossa língua,

um a um, passam para o outro lado,

e o entorno fica vazio.

 

O fim se aproxima, um dia de cada vez,

no mesmo passo de sempre,

desde o nascimento.

Não dramatizemos.

 

A morte esperada é uma graça.

O arremate normal e suave

das vidas longas.

 

Entretanto, o assunto é tabu.

Não fica bem falar sobre o encontro

que mais nos interessa.

 

Calados, sonhamos.   Em sonhos

viajamos na barca de Caronte,

nas asas de Azrael.

Em segredo imaginamos

reencontros, alegrias, aventuras talvez

em outras dimensões.

 

Serenamente esperamos

a última benção da vida.