Hébron

Sereia de Jardim

 

À toda formosa flor de perfumada pétala
Não se oferece o malmequer que afasta
Graciosamente se oferta a vida do ar da graça
A propulsão interior, mantenedora da célula

O original respiro, o encetado sopro
Hálito de nutrição do iminente broto
Gênese do primoroso esplendor
Protuberância esbelta em expansão

Já bela, inspiradora de canção
Regiamente fluindo o pérfido olor
Ópio entorpecedor, estonteante
Musa menina com cantiga delirante

Valsejo expergindo no ar o delírio
Sereia de jardim, quase maldita
Perturba sua fragrância o meu brio
Qual feromônios de proestro, um cio

O broto insinuante ao olhar é um colírio
Insidiosamente se faz suave veludo
Nas pétalas excrescentes em tom rubro
Tom de cor da paixão, tom que é minha sina

Sina que despreza a morte, carma que fascina
Do broto saliente de toda a saliência
À flor fatal que me encastela na opulência
Da sua luxúria que me faz dobrar genuflectido

Na ânsia por satisfazer um desejo sem sentido
Num arrebatamento magnético insano
A rezar grato por esse prazer hipnótico profano
Quedando-me na inércia nesse feitiço consentido

Enquanto isso, no cárcere dessa fantasia
Em sensação de trova de amor impossível
Platônico amor, amor candente, imperecível
Nessa obsediosa trama de fascinação me perdia...

À toda formosa flor de perfumada pétala
Não se oferece o malmequer que afasta...