Jose Kappel

O Senhor das Portas

 

 

De sua tez amistar

rodeiam pontos de suor

e certas tonturas que não têm cerca.

 

Fui chamado à proa do nada para conhecer

a dona da morte: senhora bem-vista,

temerosa e amedrontada e tão

bela como arroz-doce.

 

Mas senhora, dona de todo

o Norte, sabia eu, lá aonde

faz a vida, 

mas sabia onde semeia o lado

dos esquecidos.

 

 

Fui chamado a provar

minha vida e

certos amores.

 

Fui chamado a provar

de identidade e

provas vãs,

todo o poder

de uma jovem de duzentos

e duzentos e poucos anos,

dona de mim,

escrava do Senhor das Portas.

 

Fui enbojado de suor,

trêmulo de alegria

e augusto de pavor,

tentar com molho de vinagrete

colher os frutos da bela paisagem

e rever o que fui ontem -

dono de pedras -

e o que sou hoje -

dono de portas do tempo.

 

Rude Senhor das Portas,

que só nos deixa no cercado.

 

No árido, nas janelas sem emoção.

 

De duzentos em duzentos

e poucos anos estaremos

de volta - disse alguém

de angústia emproado.

 

O resto não importa mais.

 

A rua tangenceiada de povo,

faz a estátua.

 

Os prédios nos fazem

coisas minúsculas

mas dele somos donos.

 

O Senhor das Portas

só faz perguntas etéreas

e nos deixa sempre no cercado.

O Senhor das Portas

vigia meu amor 

com gosto árido

e nos leva

pra lugar nenhum,

que é o lugar

onde mesmo vivos,

nos esquecemos.

 

E, no começo da dor,

o Senhor das Portas,

se abre,

e, em nenhuma delas,

 não encontro meu amor,

que, de longe,

partiu pra sempre.