Eu hoje voltei do infinito
onde mora a eternidade
e lá fui visitar meus pais
Minha mãe estava como sempre
bem vestida, elegante e charmosa
com seu penteado fixado de laquê
enquanto meu pai continuava
como nos retratos guardados
baixinho, barrigudo e gordinho
encoberto por ternos de linhos amassados
Foi ali no fundo fim do que é inacabado
que encontrei meu menino
imaginando que quando alargasse
o futuro seria um amanhã acriançado
o mundo inteiro da infância seria prolongado
e todos estariam em todos outros aniversários
Lá em que a morte não é permitida entrar
é que recuperamos o que antes era
duradouro, perene e perdurável
e os dias são feitos de ontens
nos quais até verbos se conjugam no passado
Tenho pena das crianças esquecidas
nos adultos alheios e desmemoriados
elas vivem como se fossem
roupas velhas largadas no encovado
fechado e desalumiado dos armários
Se soubessem os crescidos
que a infância sobrevive infindável
no interior das almas termináveis
eles sentiriam que a maturidade
é ser também uma criança com maior idade
Daqui a pouco vou voltar ao infinito
que é o lugar que nunca devia ter deixado