Ainda espero da vida
a derradeira despedida
de tantas que me fez passar
Ela me levou o menino
com ele meus bolos de aniversários
mas me deixou no fundo dos tímpanos
o cantarolar dos muitos anos de vida
que minha memória perdeu a soma ao contar
Depois me retirou aos poucos os vivos
que estavam no mundo quando aqui cheguei
logo foram os transeuntes com quem esbarrei
e quando me dei conta dos anuários
já me tinha levado o século passado
e com ele quatro décadas de história
haviam virado algumas dúzias de retratos
Do fino fio que ainda me resta
caminho como um equilibrista espantado
por sobre este arame bastante esticado
olhando de cima minha entrelaçada memória
como se fosse uma rede de nuvens a me resguardar
Mas quando o circo da minha vida se for
quero dar o último adeus às lembranças
que construíram comigo meu espetáculo
recolher a lona, meus trecos e ir embora
Senhoras e senhores
o show da vida vai continuar...