Jose Kappel

Não Viva em Caixas Vazias

 

 

Olhando de lado

a gente percebe.

Olhando de frente,

também.

 

Não olhando, você,

de permeio, sente mais

ainda e se repete.

 

É porque de fora

virou prá dentro.

Que posso fazer

que tudo se embutiu?

Como se fosse tudo bem

empacotado.

 

Vida de dois

sós.Pó com emenda

de vazios.

 

Chegadas e partidas

me dominam sem chegar.

Estação dos vazios?

Quem me parte?

Aquele que me olha?

 

 

Me pegaram - na minha hora -

e misturaram tudo dentro

do nada.

 

Na caixa vazia restou

eu e a escuridão.

Pois breu tem nome,

meu nome é dos escuros

tempos que foram

navegar

pro além dos nadas,

e onde só servem pão!

 

 

Então virei caixa de

sofrer - sem ao

menos ser de vidro,

sem ao menos poder

fazer um pedido.

 

Ah! se eu pudesse,

eu largaria minha voz

meio atroz,

e soltaria a angústia:

-Me tirem desta caixa

de vazios, sem sol e em

lua.

 

Sem você,

sem lembranças

de seus abraços,

de um quentura atroz!

 

E tudo desaparece.

E no ano que vem

tudo volta a ser

o que não era antes.