Foste…
Para onde? Por que? Para quê?
Nunca estas interrogações flutuaram tão densamente em meu cérebro
Esperando respostas que não cairão do céu
Nem brotarão do solo,
Muito menos de teus doces lábios que desejo
Tal qual a terra árida anseia a chuva…
Nunca o significado de cada um destes vocábulos fizeram tanto sentido
Como me fazem sentir tanto
Não conseguir ver sentido no sentido que tomaste.
Tua partida tomou-me de assalto,
Mas não mais atordoado fiquei
Do que com os desenganos de tua direção,
Algo que ninguém quer saber, mas sabem,
Não querem dizer, mas não escondem;
Mentem uma verdade que eu busco medroso de descobrir…
Olhar abandonados teus muros, tuas paredes,
Tuas janelas nuas, fechadas e enegrecidas,
Tuas coisas em desordem para a mudança,
A tua casa,
Não me causam maior dor do que imaginar
Teus muros, tuas paredes,
Tuas janelas acortinadas, abertas e iluminadas,
Tuas coisas postas caprichosamente no lugar,
A tua casa,
E se nela puseste um ornamento a mais,
Como as suspeitas sobre o teu coração…
Ver-te passar ao meu lado tomou-me de assalto,
Mas mais jubiloso fiquei supondo-te sorrir ao me ver…
Teu rosto pálido e lindo, teus cabelos negros esplendorosamente penteados,
Teu perfume…. ah, o teu perfume!…
Eras a emoção em imagem e aroma!
Mas foste…
Foste para teu destino cotidiano,
Para o caminho de teu mundo, para a tua vida.
E eu fiquei…
Fiquei no meu sofrimento diário, monótono e infinito;
Fiquei sem rumo no mundo;
Fiquei na minha vida sem vida, sem a tua vida nela…
O horizonte enegreceu mais uma vez,
Mas não choveu…
Não veio a tempestade violenta que dizima tudo que é material e esperança,
Mas tem a capacidade de construir a perda, a dor, a dúvida;
A dúvida em si mesmo, na realidade, em Deus…
Acima, apenas o céu de chumbo e pesado
Que esmaga a consciência, mas não a destrói;
Que encerra a liberdade e libera os castigos.
E mais outro dia… foste.
Vi de longe tua mágica ilustração
E te desejei perto de mim.
Talvez nunca estiveste tão perto como agora,
Como um sonho que nos é caro e único,
Mas apenas um sonho.
Estive pra correr pra te alcançar, pra te ver,
Pra te falar, quem sabe…
Meus pés se esforçaram pra chegar…
Mas foste…
Não sei descrever o sentimento que tive,
Misto de alívio e amargura - como chamar isto?
Alívio por não sofrer te vendo bela e inatingível;
Amargura por não te ver bela, ainda que atingível apenas por meus olhos,
Principiantes no ofício de te ver e chorar…
Amargura por não saber
E imaginar, por não saber,
Sem querer saber
Onde estiveste,
Ou onde estavam teu sono e teu sonho…
Amargura porque simplesmente foste…
Para onde? Por que? Para quê?
Foste…