Além das flores do jardim, encontrei o pranto, uma dor que havia em mim, que me cobria feito um manto e entristecia os meus dias. Foi preciso uma estação inteira, enfrentando o sol, chuva e poeira até sorrir novamente, entender que o sofrimento, a melancolia e o lamento fazem parte da vida de um poeta.
Além das estrelas da noite, fiquei livre do açoite da tristeza que habitava em mim, parecia o meu fim, sem riso ou esperança, não era mais uma criança que brincava no jardim. Lá no céu a lua cheia, brilhava feito candeia e indicava aos meus olhos que a tristeza é passageira, como se uma trincheira que eu pudesse atravessar.
Atravessei noites em claro, sozinho, acompanhado, com a tristeza ao meu lado esperando o amanhecer. Amanheceu, o dia claro encerrou o breu, fez sorrir a minha alma, e a tristeza que era trauma fez nascer um riso em mim, da tristeza não era o fim, mas o início da poesia, uma espécie de magia que aprendi manipular, quando vinha a melancolia, numa folha de papel eu ficava a rascunhar, versos, prosas ou cordel, pedacinhos desse céu que a literatura nos dá.
Comecei a ver então, que muito além do meu chão, há um mundo a conquistar, novas histórias, outras glórias, resgate nas minhas memórias e uma aquarela a pintar. Sem pressa, sem compromisso, vi nascer na minha alma um novo viço, era o meu lado poeta, sem vergonha, timidez ou meta em cada texto que escrevia, para transformar tristeza em prosa, detalhar as cores de uma rosa e a poesia espalhar.
Não, eu não nasci poeta, eu nasci no interior, onde o café e o “bom dia” possuem diferente sabor, é a vida que amanhece e enquanto a noite perece, nos jardins brotam a flor, da esperança, do jeito criança de mostrar o seu amor. Eu não nasci poeta, mas descobri que a poesia é um caminho para o riso, um repelente da tristeza, uma janela com certeza para ver o paraíso.
O paraíso é o presente, cada dia que ganhamos e tantas vezes desperdiçamos sem plantar uma semente. Aproveite o seu dia, seu presente, viva com alegria, demasiadamente, dê bom dia, boa tarde, boa noite, cumprimente toda gente, e mesmo se não fizer poesia, terá sempre a magia transformada em semente, plantando alegria vivendo com primazia e criando a utopia para um mundo mais decente.
Jose Fernando Pinto