Victor Severo

O grito.

Vamos gritar todos juntos.

O mais alto que pudermos.

Vamos berrar até perdemos.

O fôlego, a vergonha, a apatia.

E que esse grito seja o último.

Bramido, clamor, suspiro.

Vamos guinchar em rogos de revolta.

Para que o céu acorde de seu sono.

Covarde, egoísta, indiferente.

E escute a súplica dos deserdados.

Vamos vomitar com esse grito.

O ódio, o medo, a ignorância.

Expelir de nossas entranhas.

Em golfos tóxicos hemorrágicos.

Toda a lama imunda de nossa essência.

E por fim, acordar do pesadelo.

De uma existência que nunca teve sentido.

Convulsivos, coléricos, ébrios de loucura.

Abandonando o fardo dessa escravidão.

Se exilando no silêncio para sempre.